quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Fichamento: Caderno de Atenção Básica n°03 "Educação Permanente"


A educação permanente das equipes de Saúde da Família constitui importante estratégia para desenvolver a reflexão crítica sobre as práticas dessas equipes. No entanto, para que haja um processo dialético entre os saberes dos profissionais e os saberes da comunidade, é preciso que o projeto de educação permanente esteja orientado para a transformação do processo de trabalho, englobando as necessidades de aprendizagem das equipes com conhecimentos, habilidades, atitudes e valores da comunidade.
A estratégia Saúde da Família representa uma concepção de atenção à saúde focada na família e na comunidade, com práticas que apontam para o estabelecimento de novas relações entre os profissionais de saúde envolvidos, os indivíduos, suas famílias e suas comunidades. Com isso, criam-se condições que conduzem à construção de um novo modelo de atenção à saúde mais justo, equânime, democrático, participativo e solidário.
Um profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às necessidades da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na Promoção da Saúde. E para que isto aconteça, é preciso uma permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la e estimular sua participação. Todas essas atribuições deverão ser desenvolvidas de forma dinâmica, com avaliação permanente, através do acompanhamento de indicadores de saúde da área de abrangência.


  • PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE
A educação permanente desempenha sua função, quando está envolvida numa prática de transformação, que traduz uma teoria dialética do conhecimento, como um processo de criação e recriação, desenvolvendo a reflexão crítica sobre sua prática/trabalho.
As necessidades de aprendizagem das equipes do PSF deverão coincidir com seus conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, elementos essenciais para a resolução dos problemas identificados nas áreas de abrangências. Nessa perspectiva, tem se preconizado que o processo educativo não deve ser considerado um momento particular da vida acadêmica, e sim, um investimento na formação para o trabalho, onde o mesmo possa definir as demandas educacionais .

A Educação Permanente – EP deve ter como objetivo central a transformação do processo de trabalho, orientando-o para uma constante melhoria da qualidade das ações e serviços de saúde.
É importante reforçar que o processo educacional precisa estar centrado no trabalho, buscando a competência profissional, com repercussões favoráveis sobre a qualidade do atendimento à população.

Espera-se, pois, que o processo de educação permanente funcione, como fonte de conhecimento, e como objeto de planejamento e transformação das práticas de Saúde da Família.

O planejamento de um processo de educação permanente precisa estar adequado às necessidades loco-regionais, utilizando todos os recursos potenciais, especialmente o aparelho formador de recursos humanos.


  • Definindo os objetivos
O processo de educação permanente para a estratégia de Saúde da Família objetiva:
1. melhorar a qualidade dos serviços, mediante um processo educativo
permanente e comprometido com a prática do trabalho;
2. aumentar a resolutividade das ações frente aos problemas prevalentes;
3. fortalecer o processo de trabalho das equipes de Saúde da Família;
4. fortalecer o compromisso com a saúde da população por parte dos membros da equipe.

Definindo etapas para o desenho de um
Projeto de Educação Permanente
O desenho de um projeto de educação permanente para as equipes de Saúde da
Família deve incluir, de maneira simplificada:
1.      levantamento das necessidades da comunidade e dos profissionais;
É importante conhecer o perfil dos futuros treinados, para saber o grau de instrução e as necessidades de aprendizado de cada um deles.
2. elaboração dos objetivos de aprendizagem;
Com base no levantamento de dados, é possível traçar objetivos assim como avaliar o grau de alcance dos objetivos.
3. seleção de conteúdos ou temas; 
Essa seleção deve ser coerente com as etapas anteriores.
4. definição dos métodos e técnicas de ensino-aprendizagem;
É preciso considerar o tipo de aprendizado esperado.
5. organização seqüencial do currículo/grade programática;
Deve seguir a lógica que facilite o aprendizado.
6. definição das atividades;
Nesta etapa, é importante elaborar um cronograma, prevendo os recursos humanos, materiais e financeiros necessários, bem como definir um plano gerencial para acompanhamento da execução físico-financeira do projeto/cursos.
7. execução do programa com contínua avaliação do processo e dos resultados.
Finalmente, é fundamental estabelecer um sistema de avaliação dos alunos, que pode ser formativa ou certificativa.

  • Refletindo sobre metodologias
Linhas metodológicas, adequadas à capacitação de profissionais identificados com
o modelo de atenção à saúde da família, precisam ter algumas características básicas:
• serem centradas no estudante;
• levarem em consideração o contexto no qual o estudante vai aplicar seus
conhecimentos;
• desenvolverem a capacidade do aluno para identificar e resolver problemas;
• proporcionarem aptidão para o auto-aprendizado;
• permitirem a troca de experiências entre os alunos;
• estabelecerem que o instrutor seja mais um facilitador do processo de
aprendizagem do que um mero transmissor de informações;
• desenvolverem um processo de avaliação capaz de dar um "feedback" tanto ao
aluno como à coordenação e instrutores com o objetivo de aperfeiçoamento
contínuo do processo de ensino-aprendizagem
Além de observar estas características, é importante que a metodologia adotada viabilize um amplo acesso por parte dos profissionais a serem capacitados.


  • ¨ Metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas
Um dos problemas enfrentados pelos profissionais do setor saúde, após sua formação básica ou especializada, é a dificuldade da aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos, ao enfrentarem casos concretos do cotidiano profissional.
A metodologia de aprendizagem baseada em problemas está voltada para possibilitar ao estudante, qualquer que seja seu nível de escolaridade, construir seu conhecimento de tal forma que o capacite a resolver problemas práticos e a manter-se num processo permanente de aprendizado auto-dirigido.

Diversos estudiosos e pesquisadores em metodologia de ensino vêm apontando, como condição fundamental para um adequado processo de aprendizagem, a presença concomitante de três aspectos2: 1) o resgate do conhecimento prévio, durante o processo de ensino; 2) a similitude do contexto, no aprendizado com a realidade a ser posteriormente enfrentada, ou seja, aprender de forma tal que propicie a aplicação do conhecimento na prática profissional, e 3) o estímulo ao estudante a construir seu próprio conhecimento, o que pode ser feito respondendo questionamentos, discutindo a matéria com companheiros de estudo, resumindo as informações por ele apropriadas, formulando e criticando hipóteses elaboradas frente ao problema enfrentado, e outras formas.

A base sistemática para a aprendizagem baseada em problemas, definida por Schmidt e Bouhuijs3, consta de sete passos fundamentais (seven-jump), após a apresentação de um problema específico4 a ser estudado por um grupo de alunos: 1) esclarecimento, em grupo, de termos ou conceitos expressos no problema, ainda não compreendidos; 2) definição exata do problema apresentado, do fenômeno que, de fato, deve ser explicado, através de discussão em grupo; 3) análise do problema exposto, baseada no conhecimento prévio do estudante, através de discussão em grupo. É referido por muitos como "tempestade mental coletiva"; 4) tentativa de uma descrição explanativa coerente, pelo grupo, do processo teórico que sustenta ou explica o fenômeno apresentado; 5) formulação dos objetivos de ensino pelo grupo, ou seja, questões cujas respostas propiciarão a construção do conhecimento almejado; 6) estudo individual fora do grupo, baseado nos objetivos identificados na etapa anterior, e 7) sintetizar e testar os novos conhecimentos construídos, através de apresentações em grupo e troca de experiências sobre o tema.

A adaptação de tais etapas, na prática educacional, faz com que, algumas delas possam se fundir, dependendo do grupo, do problema a ser estudado e do monitor.

Um dos aspectos importantes que merece destaque no processo de aprendizagem em questão é a participação do monitor do grupo, ou do "facilitador", como apontado por alguns. Tal atuação, deve muito mais estimular o processo reflexivo, com a prática da análise e resolução de problemas, do que transmitir novas informações. Ele ensina mediando, treina apoiando e tirando dúvidas, sempre incentivando a recuperação dos conhecimentos já adquiridos e a construção de novos. Sua prática de ensino deve ser calcada em questionamentos importantes, mediando as intervenções dos participantes do grupo com vistas a mantê-lo na devida direção, apontada pelos objetivos do processo de ensino.
O profissional de saúde, a princípio, mesmo que de forma não consciente, já se apropriou das bases metodológicas do PBL, através de sua prática profissional, bastando apenas exercitá-la na modalidade de ensino formal.


  • ¨ Auto-instrução e educação à distância
Além dos métodos tradicionais presenciais, merecem destaque duas formas de se organizar um processo educativo permanente, que são a auto-instrução e a educação a distância. A metodologia básica do processo de auto-instrução segue a linha pedagógica baseada no binômio ESTUDO-TRABALHO.

A escolha da modalidade de educação à distância, como meio de dotar as equipes de condições para atender as novas demandas, tem por base a compreensão de que, como modalidade não convencional, ela pode atender, com eficiência, às necessidades de Educação Permanente das equipes de Saúde da Família, servindo como meio apropriado à permanente atualização dos conhecimentos.
A educação à distância pressupõe um processo educativo sistemático e organizado, que exige não somente a dupla via de comunicação, como também a instauração de um processo continuado, onde os meios ou os multimeios devem estar presentes na estratégia de comunicação.
É importante observar que a educação à distância não pode ser vista como substitutivo de outras formas de educação, como a convencional, mas sim como uma modalidade alternativa de Educação Permanente.

Fichamento feito por: Dayane Justino





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