A educação permanente das equipes
de Saúde da Família constitui importante estratégia para desenvolver a reflexão
crítica sobre as práticas dessas equipes. No entanto, para que haja um processo
dialético entre os saberes dos profissionais e os saberes da comunidade, é
preciso que o projeto de educação permanente esteja orientado para a
transformação do processo de trabalho, englobando as necessidades de
aprendizagem das equipes com conhecimentos, habilidades, atitudes e valores da
comunidade.
A estratégia Saúde da Família
representa uma concepção de atenção à saúde focada na família e na comunidade,
com práticas que apontam para o estabelecimento de novas relações entre os
profissionais de saúde envolvidos, os indivíduos, suas famílias e suas
comunidades. Com isso, criam-se condições que conduzem à construção de um novo
modelo de atenção à saúde mais justo, equânime, democrático, participativo e
solidário.
Um profissional capacitado para
planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às necessidades
da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na Promoção da Saúde.
E para que isto aconteça, é preciso uma permanente interação com a comunidade,
no sentido de mobilizá-la e estimular sua participação. Todas essas atribuições
deverão ser desenvolvidas de forma dinâmica, com avaliação permanente, através
do acompanhamento de indicadores de saúde da área de abrangência.
- PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE
A educação permanente desempenha sua
função, quando está envolvida numa prática de transformação, que traduz uma
teoria dialética do conhecimento, como um processo de criação e recriação,
desenvolvendo a reflexão crítica sobre sua prática/trabalho.
As necessidades de aprendizagem das
equipes do PSF deverão coincidir com seus conhecimentos, habilidades, atitudes
e valores, elementos essenciais para a resolução dos problemas identificados
nas áreas de abrangências. Nessa perspectiva, tem se preconizado que o processo
educativo não deve ser considerado um momento particular da vida acadêmica, e
sim, um investimento na formação para o trabalho, onde o mesmo possa definir as
demandas educacionais .
A Educação Permanente – EP deve ter como
objetivo central a transformação do processo de trabalho, orientando-o para uma
constante melhoria da qualidade das ações e serviços de saúde.
É importante reforçar que o processo
educacional precisa estar centrado no trabalho, buscando a competência
profissional, com repercussões favoráveis sobre a qualidade do atendimento à
população.
Espera-se, pois, que o processo de
educação permanente funcione, como fonte de conhecimento, e como objeto de
planejamento e transformação das práticas de Saúde da Família.
O planejamento de um processo de educação
permanente precisa estar adequado às necessidades loco-regionais, utilizando
todos os recursos potenciais, especialmente o aparelho formador de recursos
humanos.
- Definindo os objetivos
O processo de educação permanente para a
estratégia de Saúde da Família objetiva:
1. melhorar a qualidade dos serviços,
mediante um processo educativo
permanente e comprometido com a prática do
trabalho;
2. aumentar a resolutividade das ações
frente aos problemas prevalentes;
3. fortalecer o processo de trabalho das
equipes de Saúde da Família;
4. fortalecer o compromisso com a saúde da
população por parte dos membros da equipe.
Definindo etapas para o desenho de um
Projeto de Educação Permanente
O desenho de um projeto de educação
permanente para as equipes de Saúde da
Família deve incluir, de maneira simplificada:
1.
levantamento
das necessidades da comunidade e dos profissionais;
É
importante conhecer o perfil dos futuros treinados, para saber o grau de
instrução e as necessidades de aprendizado de cada um deles.
2. elaboração dos objetivos de aprendizagem;
Com base no levantamento de dados, é
possível traçar objetivos assim como avaliar o grau de alcance dos objetivos.
3. seleção de conteúdos ou temas;
Essa seleção deve ser coerente com as
etapas anteriores.
4. definição dos métodos e técnicas de
ensino-aprendizagem;
É preciso considerar o tipo de aprendizado
esperado.
5. organização seqüencial do
currículo/grade programática;
Deve seguir a lógica que facilite o
aprendizado.
6. definição das atividades;
Nesta etapa, é importante elaborar um cronograma,
prevendo os recursos humanos, materiais e financeiros necessários, bem como
definir um plano gerencial para acompanhamento da execução físico-financeira do
projeto/cursos.
7. execução do programa com contínua
avaliação do processo e dos resultados.
Finalmente, é fundamental estabelecer um
sistema de avaliação dos alunos, que pode ser formativa ou certificativa.
- Refletindo sobre metodologias
Linhas metodológicas, adequadas à
capacitação de profissionais identificados com
o modelo de atenção à saúde da família,
precisam ter algumas características básicas:
• serem centradas no estudante;
• levarem em consideração o contexto no
qual o estudante vai aplicar seus
conhecimentos;
• desenvolverem a capacidade do aluno para
identificar e resolver problemas;
• proporcionarem aptidão para o
auto-aprendizado;
• permitirem a troca de experiências entre
os alunos;
• estabelecerem que o instrutor seja mais
um facilitador do processo de
aprendizagem do que um mero transmissor de
informações;
• desenvolverem um processo de avaliação
capaz de dar um "feedback" tanto ao
aluno como à coordenação e instrutores com
o objetivo de aperfeiçoamento
contínuo do processo de
ensino-aprendizagem
Além de observar estas características, é
importante que a metodologia adotada viabilize um amplo acesso por parte dos
profissionais a serem capacitados.
- ¨ Metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas
Um dos problemas enfrentados pelos
profissionais do setor saúde, após sua formação básica ou especializada, é a
dificuldade da aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos, ao
enfrentarem casos concretos do cotidiano profissional.
A metodologia de aprendizagem baseada em
problemas está voltada para possibilitar ao estudante, qualquer que seja seu
nível de escolaridade, construir seu conhecimento de tal forma que o capacite a
resolver problemas práticos e a manter-se num processo permanente de
aprendizado auto-dirigido.
Diversos estudiosos e pesquisadores em
metodologia de ensino vêm apontando, como condição fundamental para um adequado
processo de aprendizagem, a presença concomitante de três aspectos2: 1) o resgate do conhecimento prévio, durante o processo de
ensino; 2) a similitude do contexto, no aprendizado com a realidade a ser
posteriormente enfrentada, ou seja, aprender de forma tal que propicie a
aplicação do conhecimento na prática profissional, e 3) o estímulo ao estudante
a construir seu próprio conhecimento, o que pode ser feito respondendo
questionamentos, discutindo a matéria com companheiros de estudo, resumindo as
informações por ele apropriadas, formulando e criticando hipóteses elaboradas
frente ao problema enfrentado, e outras formas.
A base sistemática para a aprendizagem
baseada em problemas, definida por Schmidt e Bouhuijs3, consta de sete passos fundamentais (seven-jump), após a
apresentação de um problema específico4 a ser
estudado por um grupo de alunos: 1) esclarecimento, em grupo, de termos ou
conceitos expressos no problema, ainda não compreendidos; 2) definição exata do
problema apresentado, do fenômeno que, de fato, deve ser explicado, através de
discussão em grupo; 3) análise do problema exposto, baseada no conhecimento
prévio do estudante, através de discussão em grupo. É referido por muitos como
"tempestade mental coletiva"; 4) tentativa de uma descrição
explanativa coerente, pelo grupo, do processo teórico que sustenta ou explica o
fenômeno apresentado; 5) formulação dos objetivos de ensino pelo grupo, ou
seja, questões cujas respostas propiciarão a construção do conhecimento
almejado; 6) estudo individual fora do grupo, baseado nos objetivos
identificados na etapa anterior, e 7) sintetizar e testar os novos
conhecimentos construídos, através de apresentações em grupo e troca de
experiências sobre o tema.
A adaptação de tais etapas, na prática educacional,
faz com que, algumas delas possam se fundir, dependendo do grupo, do problema a
ser estudado e do monitor.
Um dos aspectos importantes que merece
destaque no processo de aprendizagem em questão é a participação do monitor do
grupo, ou do "facilitador", como apontado por alguns. Tal atuação,
deve muito mais estimular o processo reflexivo, com a prática da análise e
resolução de problemas, do que transmitir novas informações. Ele ensina
mediando, treina apoiando e tirando dúvidas, sempre incentivando a recuperação
dos conhecimentos já adquiridos e a construção de novos. Sua prática de ensino
deve ser calcada em questionamentos importantes, mediando as intervenções dos
participantes do grupo com vistas a mantê-lo na devida direção, apontada pelos
objetivos do processo de ensino.
O profissional de saúde, a princípio,
mesmo que de forma não consciente, já se apropriou das bases metodológicas do
PBL, através de sua prática profissional, bastando apenas exercitá-la na
modalidade de ensino formal.
- ¨ Auto-instrução e educação à distância
Além dos métodos tradicionais presenciais,
merecem destaque duas formas de se organizar um processo educativo permanente,
que são a auto-instrução
e a educação a distância.
A metodologia básica do processo de auto-instrução segue a linha pedagógica
baseada no binômio ESTUDO-TRABALHO.
A escolha da modalidade de educação à
distância, como meio de dotar as equipes de condições para atender as novas
demandas, tem por base a compreensão de que, como modalidade não convencional,
ela pode atender, com eficiência, às necessidades de Educação Permanente das
equipes de Saúde da Família, servindo como meio apropriado à permanente
atualização dos conhecimentos.
A educação à distância pressupõe um
processo educativo sistemático e organizado, que exige não somente a dupla via
de comunicação, como também a instauração de um processo continuado, onde os
meios ou os multimeios devem estar presentes na estratégia de comunicação.
É importante observar que a educação à
distância não pode ser vista como substitutivo de outras formas de educação,
como a convencional, mas sim como uma modalidade alternativa de Educação
Permanente.
Arquivo completo disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cad03_educacao.pdf
Fichamento feito por: Dayane Justino
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